Este é um livro polêmico que discute as possíveis mensagens ocultas do afresco do teto da capela Sistina. Acho algumas explicações duvidosas e mirabolantes, mas há muita informação interessante e possível também. Ganhei este livro no dias dos namorados ele aborda diversos temas que gosto muito: religião, mitos, arte, história, biografia e um tema que me interessa muito no momento, a Itália. Local onde passarei a lua-de-mel. Tenho estudado muito sobre a língua, cultura e arte italiana e este livro só veio me incentivar. Aqui estão algumas anotações que fiz a partir da leitura do livro.
Davi
Encomenda da cidade de Florença a Michelangelo, após seu retorno à cidade. Além de um Davi, foi encomendado um Hércules (trabalho de outro escultor). As estátuas seriam colocadas nos contrafortes da catedral e simbolicamente vigiariam a cidade. Também celebravam a libertação dos franceses e monges dominicanos.
Michelangelo escolheu um bloco de mármore já usado para esculpir Davi. A estátua realça a beleza do nu masculino. A cabeça, mãos e pés são desproporcionais para enfatizar a grandeza do personagem quando visto de baixo. Os olhos são profundo e separados – também estrábicos – para que desse uma impressão que estavam olhando para o infinito, quando houvesse a incidência da luz.
A escultura foi considerada tão bela que escolheu-se um novo lugar para colocá-la: em frente ao prédio do governo (onde hoje existe uma cópia). Atualmente, está protegida na Galleria Dell´Accademia.
Pietà
Corresponde ao hebraico rachmanut, combinação de compaixão, pena, consolo, amor, pesar e cuidado. Representação do corpo de Jesus morto nos braços de Maria.
Encomenda do cardeal Bilherès de Lagraulas – embaixador da França na Santa Sé - a Michelangelo, no período em que este morava em Roma. O cardeal morreu antes do término do trabalho e o próprio Papa Alexandre VI ficou com a encomenda.
Na época era proibido pela igreja a assinatura de obras pelo artista. Michelangelo o fez na faixa que atravessa o corpo de Maria. Uma letra M maiúscula também está presente na palma da mão esquerda de Maria. A Pietà é a única obra de Michelangelo que leva sua assinatura.
Uma coisa que chama atenção na escultura é que Maria é representada mais jovem. Isto foi bastane criticado na época, como um descuido de Michelangelo.
Sagrada Família
Encomenda para celebrar o casamento entre filhos da família Doni e Strozzi, clãs rivais dos Médici em Florença.
Inspirada numa outra Sagrada Família de Luca Signorelli, o quadro chama atenção pela influência de figuras mitológicas (eu diria a influência da arte clássica greco-romana), uma Maria musculosa e semelhante a uma sibila, um João Batista semelhante a um fauno e as cores brilhantes empregadas.
Teto da Capela Sistina
Um afresco de mais de 1000 m² encomendado pelo papa Julio II, visto que a capela construída anteriormente estava se deteriorando, juntamente com o teto de estrelas (sonho de Jacó). Michelangelo levou pouco mais de quatro anos para terminar este trabalho.
Um dos motivos que desagradavam Michelangelo era a simplicidade do teto, em contraposição às descobertas que estavam sendo feitas acerca das obras do período greco-romano.
O personagem que se encontra na entrada da capela é o profeta Zacarias – que não era o mais importante dos profetas. Zacarias se encontra no lugar onde o papa queria que estivesse Jesus. Zacarias está representado pela imagem do próprio papa. Zacarias é o profeta que adverte os sacerdotes corruptos (referência indireta ao próprio Julio II). Também é o profeta da consolação e redenção. Um dos putti atrás de Zacarias está fazendo um símbolo obsceno para o mesmo.
Modo de pensar de um artista renascentista (que poderia ter sido inspirado em Filo de Alexandria – filósofo judeu): conceber o projeto na mente, depois fazer esboços no papel e finalmente concretizá-los no material escolhido.
A visão a partir do menor dos discos de pórfiro no centro do piso da capela permite uma visão unificadora do teto, sem distorções. O eixo de união entre o céu e a terra.
O teto da capela sistina deveria representar figuras do Novo Testamento, mas o que se fez foi uma representação de personagens e histórias do Antigo Testamento. A única referência ao tema original é uma série de painéis com os ancestrais de Jesus. Acima dos painéis estão triângulos contendo representações de famílias judias, em que a figura do feminino é importante. É a mãe quem mantém viva a fé e a descendência da família. A mulher também é importante pela componente de harmonia com o masculino, segundo a cabala. Os triângulos acima dos painéis com os ancestrais de Jesus, formam uma unidade, cujo significado é dizer que são todos de uma mesma família, são todos iguais. Um dos ancestrais, Aminadab, localizado acima do trono do papa é a representação de um judeu perseguido (atentar para o selo amarelo no braço) e que faz um sinal do diabo com os dedos, apontando para o local onde o papa se senta.
Os quatro cantos do teto são ocupados por representações de feitos heróicos judeus (ou os quatro exílios a que foram submetidos o povo judeu): Judite e Davi/Golias (ala de Zacarias), Ester e Amã e Moisés.
A representação de Judite e Holofernes simboliza a letra het. Het representa Chessed, o aspecto feminino da Árvore da Vida.
Por sua vez, Davi e Golias simbolizam na pintura uma letra hebraica guimel. Guimel representa Guevurá, o lado masculino forte da Árvore da Vida.
Portanto, colocando-se junto à porta do papa (onde está o profeta Zacarias) veremos estas duas representações.
Sibilas previam fatos futuros (como oráculos), diferentemente de profetas que eram mensageiros.
A igreja católica aceitava três sibilas pagãs: tiburtina (previu o advento de Jesus a César Agusuto, a conversão de Constantino e que o anticristo seria judeu), helespôntica (previu a crucificação) e sâmia (previu que Jesus nasceria num estábulo). Nenhuma delas foi retratada por Michelangelo na capela Sistina.
As cinco sibilas da capela: délfica, eritréia, cumana, persa e líbia.
Notar que o braço da sibila eritréia é inspirado no braço direito do Davi de Michelangelo. Os modelos de Michelangelo eram masculinos, por isso as mulheres são tão musculosas.
O mesmo braço musculoso pode ser notado na sibila persa, que é uma mulher de idade avançada.
A sibila líbia, na verdade, era do Egito. Foi ela quem previu as conquistas de Alexandre.
A sibila cumana é a mais velha e famosa de todas. Fez um acordo com Apolo – que a queria – de manter-se imortal. Mas, após tê-lo recusado, Apolo deixou que a sibila fosse imortal, mas envelhecendo progressivamente. A mesma encolheu paulatinamente. Esta sibila também parece ter antecipado o nascimento de Cristo e, de forma oportuna, os seguidores de Júlio II teriam dito que esta sibila também antecipou a idade de ouro iniciada com este papa. É a sibila de Roma – e consequentemente do papa. Notar o putto fazendo o sinal da figa para essa sibila.
As imagens das sibilas se alternam com os profetas e, segundo o autor do livro, cada sibila está representada ao lado (??) dos quatro exílios.
São representados sete profetas no teto: Zacaria, Jeremias, Daniel, Isaías, Jonas, Joel e Ezequiel.
Jeremias, o profeta que alertou os sacerdotes corruptos do Templo Sagrado – está pintado acima do trono papal, em posição pensativa, o signum harpocraticum (um gesto da mão sobre a boca), também visto numa escultura da Sagrestia Nuova. Diferentemente de outros profetas, Jeremias usa botas, o que representaria a profanação do solo sagrado (no caso, pelo papa). A personagem que segura o nome de Jeremias é uma mulher seminua – diferentemente dos outros profetas – talvez para representar a vida devassa do papa.
A figura que se destaca entre todas no teto da capela é a do profeta Jonas. A sua representação tem um aspecto tridimensional. Michelangelo se compara a Jonas, como o profeta encarregado por Deus de alertar os pecadores para se arrependerem. Assim como Jonas, Michelangelo, inicialmente, procura fugir de sua missão, mas é quase que obrigado a executá-la.
Os painéis foram elaborados como trípticos. A primeira sequência de trípticos foi sobre Noé – que começa na porta do papa (onde está o profeta Zacarias). Após a pintura deste tríptico, os afrescos foram expostos ao público (contra a vontade Michelangelo) durante a festa da Assunção. Durante a exibição, Michelangelo percebeu que os personagens eram muito numeroso e pequenos. A partir daí, as cenas passaram a envolver menos figuras, que eram maiores e, portanto, mais fáceis de serem identificadas. Nesse período intensificou-se a rivalidade entre Michelangelo e Rafael. Este último, após ver maravilhado os afresco da Sistina, quis terminá-los e, inclusive, pediu ajuda a Bramante para ajudá-lo junto ao papa, o que muito irritou Michelangelo.
O último painel pintado – na verdade, o que dá início à sequência – é a criação. Deus cria o mundo separando (luz das trevas, por exemplo). Este painel foi pintado em um dia apenas, sem que houvesse qualquer esboço. Michelangelo já estava de saco cheio.
O segundo painel refere-se à criação do sol e da lua. Notar Deus de costas para o ponto em que o papa estaria sentado, mostrando o traseiro..
O terceiro painel é a separação das águas da terra. Notar o formato de um rim.
Quarto painel: a criação de Adão. Notar Deus compondo um encéfalo em corte sagital. A cena dos dedos deste painel é famosa mundialmente. Mas, ela só se tornou famosa na segunda metade do século XX a partir de uma coleção de três volumes da editora Albert Skira.
Quinto painel: a criação de Eva.
Sexto painel: Fruto proibido. Notar que a árvore do conhecimento é uma figueira (tradição judaica) e não uma macieira (tradição cristã). O anjo que bane é irmão gêmeo da serpente. A serpente possui forma humana (tradição judaica).
Sétimo painel: O sacrifício de Noé. Após o dilúvio, Noé constrói um altar para Deus. Noé aponta para o céu, a fim de reforçar que só existe um Deus. Duas figuras à esquerda de Noé aparecem escurecidas. Fazem parte de um pedaço do afresco que se soltou e foi recriado por Carnevali em 1568. Uma das figuras usa o louro da vitória da deusa Nike, personagem que não deveria existir na pintura original.
Oitavo painel: O dilúvio. A representação da arca de Noé é fiel à bíblio judaica. Trata-se de uma caixa que só conseguiu flutuar por ajuda divina. Nas laterais estão um burro (à direita) e dois pecadores com as cores de Roma. Representam uma representação irônica do papa. Uma parte do afresco caiu em 1765 – decorrente de uma explosão – e nunca foi reparada.
Nono painel: A embriaguez de Noé. Noé planta um vinhedo e inventa o vinho após salvar a Terra e construir o altar. Cam, um dos filhos de Noé, chama os outros dois irmãos para ver o estado em que se encontra o pai. Eles se aproximam com vestimentas e de costas para o pai. Noé acorda furioso com o que fez Cam. Há uma possível relação incestuosa homoerótica envolvida nesse caso.
Moisés
Após a pintura do teto da capela Sistina, Michelangelo retomou o outro projeto encomendado pelo papa Julio II: a construção da tumba que ficaria no interior da basílica de São Pedro. Interessante notar que o teto da capela sistina é uma versão bidimensional do projeto da tumba de Julio II.
A tumba seria construída como uma pirâmide. A base teria um formato retangular, influenciada pela arquitetura greco-romana. Seis esculturas deste nível foram iniciadas, duas delas estão expostas no Louvre e outras quatro na Accademia de Florença. O segundo nível da pirâmide teria dois profetas do Antigo Testamento e dois santos cristãos. Um dos profetas foi terminado e é Moisés. No topo da pirâmide estaria o esquife com o corpo de Julio II sustentado por dois anjos. Na teoria nos níveis da pirâmide representariam o sucessionismo: filosofia e reliões pagãs, judaísmo e cristianismo.
O Moisés de Michelangelo, portanto, era uma escultura originalmente pensada para estar num nível intermediário de altura de uma tumba, isto é acima das nossas cabeças. O rosto de Moisés e as duas protuberâncias na cabeça forma imaginadas para refletir a luz do sol, criando um efeito especial. Do nível em que estaria o espectador, não seria visto chifre algum.
Do projeto original do túmulo de Julio II, foi erguido apenas uma tumba com três estátuas feitas por Michelangelo. O Moisés e as matriarcas Lia e Raquel. Este monumento mudou de localização e foi colocado a igreja San Pietro in Vincoli. Como a mudança de local também implicava na mudança do efeito visual da luz, Michelangelo reconstruiu partes da escultura.
Vitória
Escultura de 1532-1534 (Palazzo Vecchio, Florença) que mostra um jovem musculoso fazendo prisioneiro um homem mais velho. Seria uma alusão ao amor homossexual de Michelangelo (o homem mais velho domado) por Tommaso dei Cavalieri (o jovem). Curiosamente, o rosto da estátua de Giuliano de Medici, na sacristia da Igreja de San Lorenzo, é idêntico ao rosto do jovem da Vitória.
Painel Frontal da Capela Sistina (O Juízo Final)
Encomenda do papa Clemente VII que substituiu o afresco pintado por Pinturicchio e outro da equipe de Botticelli.
A parte superior do afresco mostra de um lado anjos carregando a cruz e a coroa de espinhos à esquerda e uma coluna e a vara com esponja embebida em vinagre do lado direito. Lembranças da Paixão de Cristo. Os anjos, de acordo com a estética de Michelangelo, são jovens musculosos e sem asas.
Abaixo deste nível, as almas justas fazem um semicírculo em torno de Jesus e Maria. A representação de Jesus também não lembra a estética clássica do Messias. Ele parece um personagem da mitologia grega. Do lado esquerdo (direito de Jesus) estão as mulheres justas e à direita os homens justos, aqueles que foram aceito no reino celeste. De forma pouco convencional são mostrados em alegria extrema e até se abraçando e beijando de forma íntima (lembrando atitudes homossexuais). Abaixo da grelha de São Lourenço – padroeiro dos churrasqueiros – está o rosto de uma mulher, para quem se dirige o olhar de Maria: Vittoria Colonna. Era uma pessoa extremamente admirada por Michelangelo e possível paixão em sua vida também. Tommaso Cavalieri está do outro lado, abaixo e Jesus e adjacente a São Bartolomeu, padroeiro dos taxidermistas. Este santo segura a própria pele que é um auto-retrato de Michelangelo.
Um cardeal, crítico da pintura de Michelangelo, Biagio da Cesena é representado no inferno como o rei Minos.
